ÁS conversou com alguns dos vencedores desta edição do evento, que destacou cervejas com ingredientes como café, chocolate, baunilha e nibs de cacau em suas receitas. Confira!
Treze é número que habita o imaginário: treze pessoas na Última Ceia, Sexta-Feira 13 e treze medalhas de ouro para as cervejas artesanais vencedoras do Mbeer Contest Brazil, premiação que ocorre em toda edição do Mondial de La Bière, mas dessa vez anunciada logo no início do badalo etílico. A Medalha de Platina, porém, foi só uma, reafirmando a eterna importância, brilho e glam da Número Um, que nesse ano ficou com a “St. Arnold Wood Aged”, uma Belgian Dark Strong Ale da cervejaria curitibana Bodebrown.
St. Arnold Wood Aged, da Bodebrown, grande vencedora do concurso anual promovido pelo Mondial de la Bière, no Rio: até a garrafa exala o nível de gourmetização que as cervejas artesanais ganharam nos últimos anos. (Foto: Divulgação)
No Contest, os jurados como sempre fizeram provas às cegas de cada cerveja, dando notas e classificando, sem poder dar nome aos bois. As cervejarias presentes — mais de 100 —, enviaram cada uma seus rótulos para a avaliação — para o amplo público, estão disponíveis cerca de 1500 cervejas para degustação. O primeiro lugar do pódio com uma cerveja escura deu um spoiler da tendência dessa edição do Mondial: se no ano passado as cervejas frutadas tiveram destaque, nesse ano, a loira gelada deu lugar à morenaça encorpada. Black’s beautiful! Bolas da vez dos jurados, as brejas escuras tinham pelo menos um desses ingredientes: café; baunilha; chocolate; e caramelo em suas receitas. Daqui a pouco, concurso cervejeiro vai ter que ter barista!
Cervejas pretas são tendencinha nesta edição do Mondial de la Bière no ano em que “Mussum, o filmis“, é destaque na programação do Festival do Rio, que acontece simultaneamente. Black lives matter! (Foto:: Divulgação)
Para falar da cerveja de cevada, lúpulo e láureas, o gerente comercial da Bodebrown, Manolo Prigol, conta ao ÁS que o nome foi inspirado em Saint Arnould, o protetor dos cervejeiros. “Nossa cervejaria tem uma pegada mais forte no sabor”. O Wood Aged é por conta do processo de envelhecimento em barris de carvalho, garantindo mais corpo à cerveja escura, de uma cor rubi profunda que harmoniza bem com sobremesas feitas de chocolate amargo, como brownie, e o carbonade flamande, prato típico Belga de carne assada na cerveja. Os enólogos que se cuidem, porque a antes supostamente prima pobre fermentada do vinho está cada vez mais chique!
Manolo considera vir ao Mondial um prazer: “Nós participamos desde a primeira edição do festival, e já fomos premiados aqui, em outros estados do Brasil, na Bélgica. A gente vem porque o público espera nos encontrar aqui, e gostamos do carinho do carioca, do cara que vem de fora, da galera toda”. Eles também ganharam uma das treze medalhas de ouro pela Luppolo Mosaic, uma Hazy Strong Pale Ale com notas de frutas amarelas.
Desde quarta-feira (11/10), o público carioca vem degustando os lançamentos do Mondial de la Bière no Pier Mauá. Quase 40 mil pessoas já circularam pelo Porto Maravilha para conferir o evento, que segue até o final deste domingo (15/10). (Foto: Divulgação)
Além dos prêmios, a Bodebrown ostenta o logo do Iron Maiden e seu mascote, Eddie The Head. “Nosso CEO, Samuel Guru [Cavalcanti], fazia cervejas artesanais na Grã-Bretanha. Uma delas foi parar na mão do vocalista, Bruce Dickinson (qu[e esteve na cidade no Rio Innovation Week de 2022, veja aqui!), que gostou tanto que nos chamou para ser a cerveja oficial do Iron Maiden na América do Sul”, explica o gerente comercial. “Costumamos dizer que o grupo de rock pauleira que foi atrás da Bode, e não o contrário”, finaliza, dizendo que toda a equipe da empresa gosta do bom e velho rock and roll.
O roqueiro Bruce Dickinson visitou a fábrica da Bodebrown, ao lado dos proprietários da marca, os irmãos Samuel e Paulo Cavalcanti, em agosto de 2022. (Reprodução)
A cervejaria Matisse seguiu a linha das cervejas escuras com a Maruhy Ice, ganhadora da medalha de ouro. Ela traz nibs de cacau em sua composição e é fabricada com a técnica de congelamento controlada, que deixa a cerveja mais espessa; por isso o “Ice” no nome. Responsável pela parte comercial da cervejaria de Niterói, Mario Jorge Lima explica que a morena “traz uma complexidade tão grande que você nem sente o teor alcoólico de 14%”. A Maruhy harmoniza com sobremesas elaboradas como o tiramisu.
O profissional explica que antes da cerveja parar no festival, ela foi oferecida no Les Fauve, bar da Matisse localizado na Vila Cervejeira, em Niterói: “Foi aprovada pelo júri popular e pelo júri especializado”. Vale destacar que a cervejaria é uma empresa familiar, com sua filha Nadia Lima a mestre cervejeira, seu filho Tulio Macedo Lima como engenheiro de bioprocessos e sua esposa, Maria Antônia Lima, abraçando a função de tecnóloga de cerveja. “Eu só carrego os barris mesmo”, disse o modesto, simpático e jovial Mario Jorge.
Mundo Bita ou Família Birita? Pai e mãe da cervejaria Matisse, Mario Jorge e Maria Antônia (centro) posam ao lado da funcionária expositora com os copos cheios. (Foto: Igor Vieira para Ás na Manga)
Mostrando que o mood internacional do festival também engloba o nacional, se destaca a cervejaria belorizontina Wals. O ouro de Minas Gerais foi graças à cerveja “Wals Tripper Barred Aged”, cuja linha Tripper é envelhecida em barril de carvalho por dois anos e servida em garrafa de champanhe. O aroma de uva verde garante que não só a garrafa é de champanhe, mas o perfume também, e os toques cítricos são por conta do coentro e da casca de laranja, que entram como ingredientes da cerveja média encorpada, com 9% de teor alcoólico, sendo a diferentona da tendência das morenas geladas,
Leticia Yuriko, analista de planejamento e produção, defende que “foi um orgulho total poder mostrar a cerveja. Para eventos como o Mondial, nós podemos oferecer blends não comerciais, mais específicas e elaboradas. O mestre cervejeiro fica maluco!”. A paulista-mineira completa, aos risos, que essa cerveja vitoriosa “não é para qualquer um”.
Leticia Yuriko (ao centro) celebra com seu staff a medalha de ouro no Mondial de la Bière. Em cima, a garrafa de champanhe em que a linha Tripper é servida. (Foto: Igor Vieira para Ás na Manga)
Depois dos louros das medalhas, as honrarias. A cervejaria Goose Island, localizada em São Paulo e com sede em Chicago, levou a menção honrosa pela cerveja “Big Risk”. O cervejeiro Gabriel Ramalho destrincha o nome da breja. “São várias nuances. A produção é um grande risco pela complexidade, assim como é um bom risco a ser tomado para quem bebe, ao tentar pegar todos os aromas”, destaca.
Afogou o ganso e lavou a alma! Todo orgulhoso, o mestre cervejeiro da Goose Island, Gabriel Ramalho, posa com o copo cheio e as torneiras de patinho ao fundo. (Foto: Igor Vieira para Ás na Manga)
A Big Risk é uma Russian Imperial Stout, com notas mais torradas, amadeiradas, envelhecida em barris de carvalho. Ela tem um teor alcoólico de 11%, com ingredientes como chocolate amargo e malte escuro, trazendo um sabor que lembra um uísque Bourbon. “Juntamos um blend novo com um blend envelhecido, possibilitando uma amplitude de notas. Na próxima produção, utilizamos o anterior, que já vai estar envelhecido”, explicou o cervejeiro. E continua: “Essa cerveja é nosso xodó. Temos paciência de explicar, de apresentar, assim como é necessário paciência para apreciá-la”. A menção honrosa, então, confirma o lema ousado, corajoso e desafiador do rótulo Big Risk: “No risk, no history”. Diante do balcão do estande da Goose, cheio de torneiras com maçanetas de cabeça de ganso, o mestre cervejeiro sorri, com sensação de missão cumprida: “Valeu a pena”.
Confira abaixo as cervejas vencedoras do Mondial de La Bière deste ano:
MEDALHA DE PLATINA
Bodebrown – Boderbrown St. Arnold 10 Wood Aged
MEDALHA DE OURO
Alpendorf – Alpendorf Dubbel Com Cumare e Café
Bella Craft Beer – Nuts For Vanilla – Hood Cervejaria
Bodebrown – Boderbrown Luppolo Mosaic
Brewteco – This Ris The Way Café
Brewteco – This Is The Way Baunilha
Denker – Denker Praia Negra
Doutor Duranz – Nigredo Pudim De Caramelo
Matisse – Maruhy Ice
Mistura Clássica – Layla
Mistura Clássica – Amnésia
Noi – Noi Cioccolato
Three Monkeys – I’m Sour
Wäls – Wäls Trippel Barrel Aged
- Por Igor Vieira